Não sei direito explicar, mas
hoje acordei com uma angustia, um desespero...
O peito começa aperta, meu corpo em meio a cama bagunçada pulsa de dor,
03 de Setembro de 2014, 07:07 da manhã essa é a data e a hora que o
canto direito do monitor mostra para
alguém que simplesmente se perdeu no tempo. Nossa... Como meu peito dói.
Sinto-me só, sem ninguém, o pior que
quando paro pra pensar que um dia tive sonhos e planos e hoje sou um nada sem
nada.
Há um tempo estava assistindo tv ,
não me recordo o canal, lembro que era uma entrevista que estava passando e o
entrevistado disse a seguinte frase ‘’ Quem não sonha, deixa de viver’’ e por incrível que parece me recordo dessas
palavras até hoje, olha que fazem bastante tempo. Nos dias de hoje vejo o
quanto essa frase reflete em minha vida, hum... De uns anos para cá, deixei de
viver, já não sonho mais, perdi toda sede de vida, as pessoas que estão ao meu
redor não entendem... Nem eu me entendo, imagina os de mais... Tem dias que
sinto algumas migalhas de esperança dentro do peito, mas com passar das semanas
volto à estaca zero.
Depressão é algo que só quem
sente o doloroso sabor desse mal é quem sabe , já tentei me mata diversas
vezes, mas nem para morrer sirvo! Foram
tentativas frustradas... Por falar em tentativas de suicídio frustradas, lembrei-me
da minha primeira tentativa, era menor de idade, já trabalhava, comecei trabalhar cedo e
sempre tive uma aparecia de mais
idade. Lembro que fui até uma farmácia
em um bairro próximo há minha casa, e chegando lá, o balcão onde as pessoas
apresentavam as receitas e pegavam os remédios estava lotado e minha intenção
era comprar uma caixa de Dialzepam, tinham poucos funcionários tentando atender
todos praticamente ao mesmo tempo, não perdi a oportunidade, sem falar que
naquela época não era tão difícil comprar como é nos dias de hoje, que além de
apresentar a receita você deve apresentar seu RG no ato da compra .
Assim que vi os funcionários
tentando atender todos ao mesmo tempo, pensei ‘’ È agora ou nunca, vamos lá
garota! Você Consegue, seja breve! Seja rápida!’’ , coloquei as mãos sobre o
balcão e o vendedor veio em minha direção.
_ Bom dia, em que posso ajudar?
Disse o funcionário prestativa-mente em meio aqueles remédios e clientes.
_ Bom dia, gostaria de comprar um Remédio para minha mãe, o nome é Diazepam.
O cumprimentei e fui direto ao
ponto, sem rodeios, sem voltas, não poderia estender a situação,
afinal, meu objetivo era a compra do tal remédio, qualquer descuido meu plano
iria por agua a baixo. O funcionário se virou automaticamente e foi a
prateleira do foco da missão, o tal
remédio, lembro como se fosse hoje ele trouxe duas caixa e perguntou?!
_Qual mg sua mãe toma?! Quando
ele fez essa pergunta, gelei, mas fui objetiva na resposta ( Como queria dar um
fim na minha vida, é claro que disse que minha ‘’mãe’’ tomava o Diazepam com a
mg maior, bom, naquele momento pensei rápido, o que possui o mg maior é o mais
forte e ira solucionar meu problema), em nenhum momento ele desconfiou, mas só
iria ficar mais tranquila quando saísse daquela lugar com meu plano concluído...
Logo após informar qual a mg ele me perguntou;
_ A senhora vai levar?
_ Bom, peço por gentileza que deixe a caixa no
balcão, meu celular esta fora de área vou até o meio da loja ligar para ela e
informar os valores, mesmo não levando eu o informo, ok?
_Tudo bem, fique a vontade em
quanto isso vou continuar atendendo os demais clientes.
Fui até o meio de loja sem tirar
os olhos do vendedor, peguei o celular coloquei no ouvindo e comecei a
encenação, assim que o vendedor se distraiu por completo retornei ao balcão e
peguei a caixa de remédio calmamente, me direcionei ao caixa como um passe de mágica sem olhar para atrás,
coração estava a mil, pois pensei ‘’ ahhh se ele perceber que peguei o remédio
e já estou no caixa é bem provável que ele vem até a mim pedir a receita, eles
devem ter um controle internos, afinal estou comprando um tarja preta. Uma,
duas, três pessoas na minha frente e nada daquela fila andar, pronto! Chegou
minha vez!
_ Bom dia senhora, dinheiro ou
cartão¿! Disse a caixa da farmácia.
_ Bom dia. Dinheiro, por favor. Respondi
louca para aquela situação chegar ao fim, cada minuto que passava ficava mais aflita, só de imaginar aquele funcionário
vindo em minha direção com frases do
tipo “ Senhora, esqueceu a receita’’, ‘’ Só podemos vender com a receita’’ , ‘’
A receita por favor’’ ou ‘’ Temos um
controle no interno, só podemos vender com a receita.’’ , meu plano iria por
agua a baixo, mas mesmo com aquela aflição mantive a calma, recebi o troco,
nota fiscal, dei uns cinco passos , Pronto! Finalmente fora da farmácia, plano
concluído!
Nesse dia
tratei de acelerar o passo, assim que entrei no ônibus sentei aos fundos, fiquei
pensando como consegui comprar esse remédio sem receita, chegou a ser cômico,
apesar de toda dor, aflição e desejo de
morrer me senti realizada, afinal meu
plano foi concluído com sucesso e tudo estava ao meu favor...
Chegando em
casa tratei de checar se estava só, fui a cozinha abri a mochila tirei o saco da farmácia e o deixei sobre o freezer, fui ao meu quarto, nesses
segundos escuto um barulho na porta, minha mãe e minha irmã chegam em casa, entram na sala, automaticamente fui
correndo a cozinha pegar minha sacola, porém
era tarde de mais, elas estavam com uma cara de assustadas , minha mãe com o remédio na mão olhou fixamente em
meus olhos e perguntou;
_ O que é isso
aqui?!
Não sabia o que
falar, só pensava "Não acredito, tanto esforço por nada, por que fui deixar o
remédio em cima do freezer?! Meu plano
foi por agua a baixo!’’
Sem responder
nada, fui rapidamente à direção da minha mãe, tentei pegar o remédio, ela me
empurrou violentamente, minha irmã nervosa assistindo tudo não embolsou nenhum
tipo de reação.
_ Você esta maluca?!
Por que você comprou essa merda?! Me diz! O porque?! Gritava minha mãe tremula
e sem entender.
_ Isso é meu!
Respondi em meio a tantos gritos e gesticulações.
Naquele momento
fui tomada por uma pressão muito forte em meu peito, foi como se estivessem
rasgando meu coração, desabei em lágrimas e soluços, não conseguia falar,só
escutava minha mãe aos gritos, me exigindo uma explicação, quando de repente,
sentei no sofá, não podia mais evitar,ela não iria me dar o remédio, o plano chegou
ao fim e sem sucesso... Minha mãe tremula e aflita não parava com suas
interrogativas, em meio a tantos questionamentos aos prantos não resistia minha
mãe dizer que era ‘’frescura e palhaçada’’
tudo aquilo, não resisti ouvir
aquelas palavras..
_ Frescura e
palhaçada¿! Não é a senhora que sente o que sinto, não é a senhora que esta na minha
pele...
_ Isso é frescura
você merece umas porradas, só assim você para com essa palhaçada. Disse minha mãe
com os olhos fixados em minha direção.
_ Então bate!
Faz melhor me mata! Assim alivia tudo isso que dói aqui dentro, esta
pensando que vou desistir de ir embora desse mundo?!
Ela não me
agrediu, mas fez pior , agrediu minha alma com suas palavras afiadas,
conseguindo me deixar pior do que estava, foram ofensas em cima de ofensas,
humilhações em cima de humilhações a vontade de me matar só aumentou. Não
custava nada, um abraço, um gesto de carinho ou até mesmo uma palavra de
conforto, mas não, só encontrei humilhações, palavras que só ajudaram a me
afundar ainda mais...
‘’ Não julgue apenas ajude’’
É
muito fácil julgar quando uma pessoa encontra-se fragilizada, não custa nada
deixar de falar e aprender a ouvir, uma pessoa depressiva precisa de ''tão pouco''
, um tão pouco que pode fazer toda diferença, bom , hum... Essa foi uma das
minhas tentativas frustradas, infelizmente ou felizmente não deu certo. Tem
gente que diz que ‘’ Quando as coisas não saem como planejamos é porque não era
pra ser, Deus tem um propósito diferente no nosso caminho’’, vai ver que não
era mesmo... Já ouvi tanta coisa...Não
sei se foi Deus, não sei se é Deus, mas ....As tentativas foram todas
frustradas!Confesso que no fundo , mas bem lá
no fundo acredito nesse tal propósito, não de Deus, porque não sei se ele
realmente existe, acredito que entre nós existe forças, e uma delas é a força
maior , o creador, aquele ou aquela que criou o mundo , e eu não sei seu
verdadeiro nome, não sei se realmente essa tal força maior se chama Deus, só
sei que tem dias que esta difícil por aqui, mas as vezes tento renovar as
esperanças, acho que não custa nada tentarmos renovar essa esperança, ainda
estamos aqui é por algum motivo.
Suicídio e seus Relatos
Setembro,2014

